Às vezes, a realidade simplesmente não é suficiente. Em certos momentos, o que a gente precisa mesmo é mergulhar em mundos onde as regras da lógica se desfazem, o inusitado impera e o humor surge nos lugares mais inesperados. Bem-vindo à ficção absurda — um gênero literário onde o estranho, o cômico e o surreal convivem alegremente.
Neste artigo do Escolha Sua Leitura, apresentamos 7 livros imperdíveis de ficção absurda, recheados de situações hilárias, personagens inusitados e uma criatividade sem limites. São histórias que desafiam o senso comum e fazem rir ao mesmo tempo em que provocam reflexões inesperadas.
1. O Guia do Mochileiro das Galáxias – Douglas Adams
Nada mais justo do que abrir a lista com o clássico do absurdo moderno. O Guia do Mochileiro das Galáxias é o primeiro volume da “trilogia de cinco livros” escrita por Douglas Adams, e acompanha a jornada de Arthur Dent, um inglês comum que vê sua casa (e logo depois, o planeta Terra inteiro) ser destruída para a construção de uma via expressa intergaláctica.
Com um humor tipicamente britânico e uma inventividade fora de série, o autor cria um universo em que baleias surgem do nada, robôs sofrem de depressão e toalhas são itens essenciais de sobrevivência.
2. A Revolução dos Bichos – George Orwell
Pode parecer estranho incluir este título aqui, mas A Revolução dos Bichos é um exemplo brilhante de como a alegoria absurda pode ser usada para contar uma história profunda e, ao mesmo tempo, absurdamente cômica. O livro narra a rebelião de animais de uma fazenda contra os humanos, apenas para que eles mesmos acabem replicando o mesmo sistema de opressão.
O tom irônico e o absurdo crescente — por exemplo, porcos discursando com gravidade política ou regras como “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros” — fazem da obra uma leitura envolvente e cheia de sátira.
3. O Mestre e Margarida – Mikhail Bulgákov
Este é um dos maiores clássicos do surrealismo russo. Em O Mestre e Margarida, o diabo aparece em Moscou e começa a interagir com figuras da sociedade soviética, provocando caos com a ajuda de um gato gigante que anda em duas patas, fala e adora vodka.
Bulgákov mescla sátira, crítica política, romance e fantasia em uma narrativa onde o absurdo domina — e faz sentido. A obra alterna entre episódios de humor negro, cenas místicas e um estranho senso de lógica interna.
4. A Vida: Modo de Usar – Georges Perec
Este romance francês é uma verdadeira obra-prima do insólito. Perec constrói o livro como um grande quebra-cabeça, apresentando os moradores de um prédio parisiense em ordem meticulosamente aleatória. As histórias beiram o absurdo: há enigmas, jogos matemáticos, animais empalhados, piratas e até peças de xadrez humanas.
A genialidade de Perec está em usar uma estrutura rigorosa para narrar o absurdo cotidiano, com humor seco e uma ironia elegante.
5. Macunaíma – Mário de Andrade
O clássico modernista brasileiro traz um herói sem nenhum caráter que atravessa florestas, cidades e situações completamente insanas. Macunaíma é uma viagem antropofágica pelo Brasil profundo, misturando mitologia indígena, crítica social, surrealismo tropical e um humor debochado.
O protagonista se transforma, cresce, regride, voa e até conversa com entidades mágicas em plena São Paulo. Tudo é exagerado, ilógico, mas carregado de significados ocultos e críticas culturais.
6. A Terceira Polícia – Flann O'Brien
Este romance irlandês é um dos segredos mais bem guardados da literatura absurda. A Terceira Polícia é uma mistura de humor nonsense, filosofia existencial e uma pitada de loucura. O protagonista, cujo nome nunca é revelado, acaba envolvido em um assassinato e vai parar em uma delegacia onde os policiais acreditam que pessoas trocam átomos com bicicletas e que o tempo pode ser armazenado em caixas.
A obra ficou guardada por anos e só foi publicada postumamente. Hoje, é considerada um dos marcos da ficção surreal do século XX.
7. Casa de Bonecas – Henrik Ibsen (releitura absurda por Zadie Smith em conto curto)
Embora o original de Ibsen seja uma peça dramática, a releitura absurda feita por Zadie Smith em um de seus contos transforma o universo da personagem Nora em um cenário onde tudo é simbólico, exagerado e cômico. A versão de Smith retrata Nora como uma espécie de boneca viva tentando escapar de uma casa que se remodela sozinha a cada tentativa de fuga, como um pesadelo absurdo com pitadas de Alice no País das Maravilhas.
Por que ler ficção absurda
A ficção absurda é mais do que estranha por estranheza. Ela mexe com as engrenagens do nosso raciocínio lógico e convida o leitor a sair da caixinha. Ao nos colocar em cenários impossíveis, nos obriga a observar o que há de mais ilógico na própria realidade — muitas vezes, com um toque de humor.
Ela é libertadora porque não obedece regras. E ao rir do absurdo, aprendemos a rir também da vida real, que muitas vezes é tão sem sentido quanto qualquer história escrita.
Ler ficção absurda é, no fundo, um exercício de criatividade, liberdade e empatia. Porque mesmo em meio ao caos e à insanidade, essas histórias nos lembram da beleza de sermos falhos, esquisitos e humanos.
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